sábado, 27 de julho de 2013

Dicas: Diálogos.




Diálogos são momentos cruciais em um livro. Digo isso porque devem ser usados em momentos certos com o intuito de prender o leitor, acrescentando informações cruciais à história. Diálogos frágeis, desinteressantes, vazios, monótonos, exagerados e sucessivos são um tiro no pé do escritor, fazendo até um bom livro e uma boa história irem por água abaixo. Isso é o que tenho escutado sobre os conselhos dos melhores escritores internacionais e nacionais que pesquisei. Escutei uma vez, alguém dizer, que se identifica um escritor bom e um escritor medíocre conforme a quantidade de diálogos em seu trabalho; mais de 65% da obra significa que o escritor é ruim. Acho que essa afirmação não pode ser levada tão a sério, no entanto a lógica nos diz que é mais fácil escrever diálogos, por tanto não seria uma crítica absurda. Diálogos ganham páginas mais facilmente e são um atrativo maior para o escritor acomodado. No meu ponto de vista, é possível levantar esse argumento em diálogos bons e diálogos medíocres, que nos levarão a identificar escritores bons de medíocres. Existem exceções de livros que são em sua maioria fundamentados em diálogos e mesmo assim, são excelentes. E por isso a literatura é tão extraordinária. Se pegarmos o livro de Ernest Hemingway, O Velho e o Mar, o livro é basicamente um diálogo entre dois personagens e que mesmo assim virou um clássico da literatura. Talvez seja um ótimo livro para começar a estudar diálogos. É um livro curto e barato, e em se tratando de um clássico da literatura não deve ser tão difícil adquiri-lo. Lógico que não é qualquer um que consegue tal proeza como o Hemingway.

Mas, o que torna um diálogo bom?
A fluência e a forma direta com que deve ser arrebatador. Os diálogos na verdade devem ser as cerejas das descrições e dos detalhes. Um aperitivo que balance e quebre ritmos agregando informações válidas, que servirão à obra. Tem um exemplo muito bom no livro: O Espião Perfeito, de John Le Carré, começa assim:

Nas primeiras horas de uma tempestuosa manhã de outubro numa cidade litorânea no sul de Davon que parecia ter sido abandonada por seus habitantes, Magnus Pyn saiu de seu velho táxi rural e, tendo pago ao motorista e esperado até que ele partisse, atravessou a praça da igreja.
O parágrafo prossegue, por fim, acompanhando Magnus Pyn, que, segundo somos informados, viajou por volta de 16 horas e está a caminho de uma das várias "Mal-iluminadas pensões vitorianas". Finalmente Magnus Pyn toca a campainha e é recebido por uma velha que diz: "Ora, Sr.Canterbury, é o senhor."
Essa única linha de diálogo nos informa que Magnus Pyn já esteve ali antes e está viajando sob um nome falso. São essas sutilezas que tornam um diálogo bom, quando o autor mostra o que quer esconder ou esconde o que quer mostrar da trama.

Claro que o diálogo tem muitas serventias.

Podemos usar o formato de diálogo como forma de evitar longas explicações, ou como forma de inserir e apresentar descrições. Existem livros que já iniciam no diálogo e te prendem. Um Dia , David Nicholls, por exemplo começa assim, com sutileza no diálogo.

- Acho que o importante é fazer diferença - disse ela. - Mudar alguma coisa, sabe?
- Você está falando de "mudar o mundo"?
- Não o mundo inteiro. Só um pouquinho ao nosso redor.
Os dois ficaram em silêncio por um tempo, os corpos entrelaçados na cama de solteiro, depois começaram a rir em voz baixa, na mesma altura do amanhecer. (Veja que na pequena descrição entre diálogos, o autor já menciona que eles passaram a madrugada juntos e estão ao amanhecer do dia. Sem a necessidade de explicações longas.)
O grande escritor brinca com as formas. Fazendo descrições em diálogos, diálogos em gestos, gestos em descrições, e assim por diante.
Vimos a importância do equilíbrio entre diálogo, gesto e descrição.

A melhor maneira de aprendermos a construir diálogos naturais é estudar e ler livros de autores que sabem como fazer isso com maestria. Para uma literatura de qualidade não basta reproduzir diálogos como acontecem na vida real. Isso não funciona e torna o texto uma má leitura. Ouvi de um escritor que é preciso ajustar o texto do diálogo em um sistema suave de fonética.E o sistema real de diálogos usados no dia a dia com repetições e fonética pobre, não cabem na literatura. Assim, procure a arte de simular o cotidiano, mas não colocá-lo à risca nas páginas. E não esqueça que, todos os diálogos no livro devem ter um motivo para acontecer; para não se tornarem inúteis, soltos e esquecidos nas páginas. Segundo Assis Brasil: A arte não reproduz a vida, ela cria outra vida.
Um bom livro para estudar diálogos que quebram esses paradigmas com maestria e bom gosto é o livro: O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D Salinger.