segunda-feira, 11 de março de 2013

Parágrafos.

Os parágrafos são essenciais em uma história.Saber quando terminar um e começar outro é primordial num escritor. Se você é um escritor e tem em mente a preocupação com a elaboração do parágrafo e sobre o que cada um vai abordar e de que forma, você já está anos luz na frente de muitos escritores que deixam essa preocupação de lado na hora de colocar no papel suas ideias. O parágrafo deve ter um poder próprio, e vários deles juntos devem encorpar e enriquecer a sua história.


Uma visão literal sobre esse assunto encontramos em um pensamento segundo Isaac Bábel:
"A quebra em parágrafos e a pontuação devem ser feitas adequadamente, mas apenas pelo efeito sobre o leitor. Um conjunto de regras mortas não é bom. Um novo parágrafo é uma coisa maravilhosa. Ele lhe permite mudar tranquilamente de ritmo, e pode ser como um relâmpago que mostra a mesma paisagem sob um aspecto diferente."
Alguns escritores consideram o poder do parágrafo como uma poesia; assim a ser encarada com ritmo poético. Acho que isso vai de cada um, ao passo que o mais importante é dar condicionamento, leveza e sensatez ao parágrafo. A melhor dica que escutei é simples. "Comece o parágrafo causando boa impressão e termine-o despertando a curiosidade do leitor em passar para o próximo." Com relação a isso, pode ser feito de inúmeras formas. Não existe necessariamente uma regra, a não ser essa idéia que deve estar na mente do autor, enraizada.

Existe outra dica que determina de forma mais concisa a idéia do poder do parágrafo. Use o parágrafo de forma a avançar para algum tipo de clímax, para aquela cena de fôlego que nos leva ao parágrafo seguinte. Acho que agora estamos determinando melhor e visualizando de forma contextual o parágrafo. Vou dar um exemplo de fôlego e Curiosidade usando os dois primeiros parágrafos do livro de Dennis Lehane - Ilha do Medo.

    Faz muitos anos que não vejo a ilha. Da última vez, eu a vi do barco de um amigo que se aventurou no anteporto;avistei-a ao longe, para além do porto interior, envolta numa bruma estival, mancha de tinta no céu, deixada por alguma mão descuidada.
    Faz mais de duas décadas que não ponho o pé lá, mas Emily diz (às vezes  brincando, às vezes não) que não sabe ao certo  se saí mesmo de lá. Certa vez ela me disse que o tempo, para mim, não passa de uma série de marca-livros que uso para saltar para frente e para trás  no texto de minha vida, voltando repetidas vezes aos acontecimentos que fizeram de mim, aos olhos dos colegas mais perspicazes, um caso clássico de melancolia.

Caso Lehane quisesse, poderia usar todo esse texto em um único parágrafo, mas não o fez. Fica claro que a quebra, além de trazer o fôlego ao leitor, separou bem as camadas sendo reveladas aos poucos. O livro segue logo no início com cinco parágrafos pequenos, contando esses dois primeiros, e depois um bem maior com o triplo do tamanho desse segundo. Isso é o que poderíamos chamar de estrutura. Essa construção deve ser bem pensada durante o seu livro. Quero deixar claro que nunca é bom sequência de parágrafos gigantes tanto quanto sequência longa de parágrafos pequenos. Busque o equilíbrio entre eles.

Analisando o primeiro parágrafo de Lehane, o personagem conta de forma econômica e melancólica o seu distanciamento em relação à ilha. Não diz o tipo de ilha, apenas conta a última vez em que se aproximou dela, de forma até poética na escrita. Esse primeiro parágrafo determina um certo receio no personagem, e até respeito em relação a tal ilha.
No segundo parágrafo, você já é apresentado Emily. Segundo Emily (que não se sabe o grau de parentesco e afinidade com o narrador) ao voltar da tal ilha, ele voltou mudado. Dois mistérios para serem esclarecidos nos próximos parágrafos.
O terceiro parágrafo do livro se resume numa única frase. Frase essa que mostra um pouco mais que o relacionamento com Emily sugere cônjuge, embora ainda misterioso.
    Emily deve ter razão. Ela quase sempre tem razão.
Já no próximo parágrafo, Ele começa com a frase que define que Emily é sua companheira.

    Logo vou perdê-la também. É uma questão de meses, como nos disse o doutor...
 O parágrafo continua  revelando aos poucos um pouco sobre o narrador, Emily, e a ilha. Logo nesse parágrafo ele explica sobre um médico que lhe dá conselhos. Durante os conselhos o doutor revela o nome do narrador no final do parágrafo.
No parágrafo seguinte ele destaca a perda de sua memória, que anda falhando recentemente. Ele conta que não lembra onde guarda as chaves do carro e outros detalhes de memória enfraquecida. Assim o quadro do personagem vai se revelando aos poucos. Tudo perfeitamente elaborado em quebra de ritmo, para dar o fôlego ao leitor. Esse é um bom exemplo de como revelar as coisas aos poucos e o que cada parágrafo irá contar. Perceba a suavidade do texto também, isso é muito importante.

Mais dicas:
"Como regra, comece cada parágrafo ou com uma frase que sugira o tópico ou com uma frase que ajude a transição... Em narração e descrição, o parágrafo às vezes começa com uma declaração concisa e abrangente que serve para manter unidos os detalhes que se seguem..."
 Assim começa o primeiro parágrafo desse livro, com uma declaração. Faça o teste e analise os livros que você mais gosta para ver se encontra essa regra e como ela foi elaborada também.

"Em geral, lembre-se de que a paragrafação requer um bom olho, bem como uma mente lógica. Enormes blocos de palavras impressas parecem temíveis aos leitores, que muitas vezes relutam em enfrentá-las. Assim, quebrar parágrafos longos em dois, mesmo que não seja necessário fazê-lo para o sentido, a significação ou o desenvolvimento lógico, é muitas vezes um auxílio visual. Mas lembre-se, também, de que disparar muitos parágrafos curtos em sucessão pode ser perturbador ... Moderação e um sentido de ordem deveriam ser as principais considerações na paragrafação."
 Muitas vezes, a tática usada para quebrar parágrafos longos ou sequências de parágrafos longos é o diálogo curto. Essa tática é usada para restabelecer o fôlego e para incrementar a trama com diálogos escolhidos a dedo que servem também para enriquecer a história com detalhes. Falarei sobre diálogos mais tarde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário